Carnaval Contra Hegemônico 2012 - Unidos da Lona Preta : Um exemplo de luta e resistência popular através do samba paulistano.
Por Silvana Bezerra
“E fez-se a luta: uma homenagem a toda Companheirada ”.
A Escola de Samba Unidos da Lona Preta em 2012 homenageia os militantes de base, anônimos que fazem a luta no dia-a-dia, mantendo acesa a chama da libertação da classe trabalhadora.
Para entender melhor a temática elaborada para a composição do samba, vale ler em anexo a sinopse da Unidos da Lona Preta, com uma síntese de nossas idéias para o carnaval de 2012.
O samba foi elaborado coletivamente após um processo de formação e discussão sobre o tema escolhido.
Da escolha do tema passou-se às formações, discussões e elaboração da sinopse.
A partir do texto da sinopse foi composto o samba-enredo.
Uma Homenagem À Toda Companheirada”
É com muita alegria e comprometimento com as lutas de nosso povo que a Escola de Samba Unidos da Lona Preta apresenta seu Enredo para o ano de 2012: “... E Fez-se A Luta: Uma Homenagem À Toda Companheirada”.
Por séculos o povo brasileiro vive humilhado e explorado por opressores nacionais e internacionais.
Nas mais variadas faces, a exploração empurrou nosso povo à pobreza e à morte. No entanto, mesmo sob tanta violência, jamais puderam calar nossa voz. Do lamento passa-se à luta, da tristeza surge a raiva, da passividade vem a ação. O povo se organiza, se encontra, debate, protesta, planeja seus passos, pensa num futuro melhor... E fez-se a luta.
Surge o MST, síntese de uma tradição guerreira de nosso povo. Contra o latifúndio, contra o capitalismo, pela Reforma Agrária. Nosso movimento nunca baixou a cabeça diante dos opressores e gritou bem alto: a luta é pra valer. Esse grito ecoou no país e no mundo. Somos um dos mais importantes movimentos sociais da história do Brasil e com muitos aliados mundo afora. Com unidade e ação, somos fortes... E fez-se a luta.
Para representar a grandeza do MST e do povo brasileiro, textualmente serão citados cinco militantes que fazem no dia-a-dia o movimento acontecer. Estes representarão a todos nós, pelo que fazem, fizeram e significam para nossa organização.
*Vanessa dos Santos: sem-terrinha de oito anos assassinada no massacre de Corumbiara. Criança também luta. Sua vida é exemplo da busca por um mundo mais humano.
*Mestre Geraldo: a força do samba, a crença na cultura popular como arma de transformação. A semente que foi plantada lá atrás e que nós colhemos e fazemos florescer. Que deixou saudades. Teu repique segue ecoando em nossos corações.
*Laércio, preso político. Pai de quatro filhas, esposo, negro, de origem pobre. Surdo de primeira que bate firme. Lutador exemplar, incansável, admirado e querido. O MST te aguarda para seguirmos juntos na caminhada. O povo brasileiro te precisa. Como dizem os Racionais: as grades de ferro jamais prenderão nossos pensamentos.
*Mauro, senhor e menino. Puro coração. Pura emoção. Plantador e formador. Migrante que superou as dificuldades da vida e gritou: o MST me levantou! Esta Luta nos levantou! Exemplo de humildade e perseverança. Sabedoria cultivada na escola da vida.
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Almerinda comanda o trio de chocalhos |
*Almerinda, tia a quem pedimos a benção e a licença pra cantar samba. Embala seu chocalho construindo o tempo da igualdade entre mulheres e homens. Mãe, fecundando o sonho de uma vida melhor para seus filhos e filhas, neste caso, toda a humanidade. Negra, da cor da noite, do sofrimento na pele, a sabedoria nos olhos. Guerreira. Mulher. Linda!
Este tema é uma homenagem, um carinho da Escola de Samba Unidos da Lona Preta a todos àqueles e aquelas que cotidianamente batalham pelo nosso movimento. Uma homenagem aos companheiros e às companheiras que plantam, colhem, suam, no campo e na cidade, nas marchas e panfletagens.
Um reconhecimento a todos e todas que no dia-a-dia fazem a luta acontecer: quem consegue o recurso para a alimentação em um curso de formação; quem cozinha nos encontros; quem pinta bandeiras de madrugada; quem lida com papeladas fazendo relatórios; quem sabe a hora certa de colher o fruto; quem anda quilômetros para cumprir uma tarefa; quem cuida das crianças nas cirandas.
Estes e estas representam, povo brasileiro, povo trabalhador, ou seja, TODOS NÓS, que não desistimos diante das dificuldades e que seguimos firmes e fortes.
Cabeça erguida, dignidade inabalável. Se o presente é de luta, o futuro é nosso...
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E fez-se a luta.
Somos José, Pedro e Maria, somos Geralda, Teresa e Manoel. SOMOS SEM TERRA!... E fez-se a luta! |
“E fez-se a luta: uma homenagem à toda companheirada”
A vida muda a luta, a luta muda a vida
Sou Sem-Terra com dignidade (Refrão)
Batucada na avenida
Construindo a unidade
De punhos erguidos
A Unidos vem cantar
Pra quem tá na correria, no dia-a-dia
Plantando a resistência popular
Infância Sem-Terrinha é na ciranda
Cozinha coletiva faz comer a ocupação
O coração batendo ao som do samba
A foice e a baqueta na mão
O pulso firme e forte das mulheres
Debate de idéia em reunião
E nem mais um minuto de silêncio
Àqueles que tombaram neste chão
Não matarão, nossos sonhos de criança
Que na nossa militância, para sempre prevaleça (Refrão)
O repique de Geraldo, o sorriso de Vanessa
Laércio, a justiça burguesa
Não prenderá a consciência
Da classe que em sua formação
Fez Tio Mauro buscar
A beleza e o pão
Almerinda, a benção, madrinha
Negra, vem da dor o saber
Os teus olhos guerreiros
Nos fizeram entender (que)