quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

“Uma história de rebeldia contra a exploração”


Por Iris Pacheco

O livro a montanha é algo mais que uma imensa estepe verde de Omar Cabezas, lançado em 2008 pela Editora Expressão Popular, é a narrativa de uma pequena parte da história de rebeldia do povo nicaraguense contra a exploração. 

A obra referência reflexões práticas e teóricas sobre a inserção militante do autor na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) a partir da década de 60. Os relatos também expressam a conjuntura sócio-política da época, formas de organização do FSLN, assim como a elaboração de estratégia e tática de luta contra o capitalismo.

Das dúvidas de Omar durante esse processo revolucionário da Nicarágua a certeza de que em nossas solidões devemos pensar em nossas dores e em como enfrentá-las. E que nos momentos difíceis, não nos vejamos mais subitamente sozinhos. Pois, logo mais a frente, há aqueles que também seguem resistindo.

Sem dúvida este é um livro para ler nos momentos de desesperança. Quando pensamos em desistir das causas pelas quais lutamos. É justamente em meio a esse turbilhão que conseguimos enfrentar nossos medos e resistir sem nos sentirmos sozinhos. Poque a coragem e persistência daqueles que construíram a luta da humanidade por sua emancipação “nos dá forças para seguir adelante”. Mas, sobretudo, é uma obra para se ler nos momentos de esperança, quando “vencer nossas derrotas, traçar e discutir atuais e novas estratégias e planos de luta se faz necessário para continuidade da luta de nossa classe”.


Historicamente a coragem dos que tombaram na luta sempre foi símbolo chama para reacender das cinzas a força de vontade para se seguir nessa jornada pela construção do “homem novo”, que busca construir uma nova sociedade que seja justa e igualitária.

 No entanto, é durante a viagem pela trajetória narrativa de Omar que se compreende a força e coragem de se organizar e lutar mediante as injustiças cometidas contra o povo. Essa capacidade de seres aparentemente duros, ásperos, mas que procuraram cultivar em si “uma grande ternura de homens”. Capacidade forjada no calor do sofrimento, lá onde se forja também os valores humanos “que são contaminados pelos vícios da sociedade burguesa”. Mas, que em meio a montanha, a chuva, a lama e a solidão, são estritamente apropriados. 

Para adquirir o livro acesse http://www.expressaopopular.com.br/livros/expressao-popular/montanha-e-algo-mais-que-uma-imensa-estepe-verde
 

Carnaval 2012

Carnaval Contra Hegemônico 2012 - Unidos da Lona Preta : Um exemplo de luta e resistência popular através do samba paulistano.
                                                                                                                                Por Silvana Bezerra


“E fez-se a luta: uma homenagem a toda Companheirada ”.


A Escola de Samba Unidos da Lona Preta em 2012 homenageia os militantes de base, anônimos que fazem a luta no dia-a-dia, mantendo acesa a chama da libertação da classe trabalhadora.
Para entender melhor a temática elaborada para a composição do samba, vale ler em anexo a sinopse da Unidos da Lona Preta, com uma síntese de nossas idéias para o carnaval de 2012. O samba foi elaborado coletivamente após um processo de formação e discussão sobre o tema escolhido. Da escolha do tema passou-se às formações, discussões e elaboração da sinopse. A partir do texto da sinopse foi composto o samba-enredo.
 
Uma Homenagem À Toda Companheirada” 
  
É com muita alegria e comprometimento com as lutas de nosso povo que a Escola de Samba Unidos da Lona Preta apresenta seu Enredo para o ano de 2012: “... E Fez-se A Luta: Uma Homenagem À Toda Companheirada”. Por séculos o povo brasileiro vive humilhado e explorado por opressores nacionais e internacionais. 
Nas mais variadas faces, a exploração empurrou nosso povo à pobreza e à morte. No entanto, mesmo sob tanta violência, jamais puderam calar nossa voz. Do lamento passa-se à luta, da tristeza surge a raiva, da passividade vem a ação. O povo se organiza, se encontra, debate, protesta, planeja seus passos, pensa num futuro melhor... E fez-se a luta. 
 Surge o MST, síntese de uma tradição guerreira de nosso povo. Contra o latifúndio, contra o capitalismo, pela Reforma Agrária. Nosso movimento nunca baixou a cabeça diante dos opressores e gritou bem alto: a luta é pra valer. Esse grito ecoou no país e no mundo. Somos um dos mais importantes movimentos sociais da história do Brasil e com muitos aliados mundo afora. Com unidade e ação, somos fortes... E fez-se a luta. 
Para representar a grandeza do MST e do povo brasileiro, textualmente serão citados cinco militantes que fazem no dia-a-dia o movimento acontecer. Estes representarão a todos nós, pelo que fazem, fizeram e significam para nossa organização. 
 *Vanessa dos Santos: sem-terrinha de oito anos assassinada no massacre de Corumbiara. Criança também luta. Sua vida é exemplo da busca por um mundo mais humano. 
 *Mestre Geraldo: a força do samba, a crença na cultura popular como arma de transformação. A semente que foi plantada lá atrás e que nós colhemos e fazemos florescer. Que deixou saudades. Teu repique segue ecoando em nossos corações.
 *Laércio, preso político. Pai de quatro filhas, esposo, negro, de origem pobre. Surdo de primeira que bate firme. Lutador exemplar, incansável, admirado e querido. O MST te aguarda para seguirmos juntos na caminhada. O povo brasileiro te precisa. Como dizem os Racionais: as grades de ferro jamais prenderão nossos pensamentos. 
 *Mauro, senhor e menino. Puro coração. Pura emoção. Plantador e formador. Migrante que superou as dificuldades da vida e gritou: o MST me levantou! Esta Luta nos levantou! Exemplo de humildade e perseverança. Sabedoria cultivada na escola da vida. 
Almerinda comanda o trio de chocalhos
 *Almerinda, tia a quem pedimos a benção e a licença pra cantar samba. Embala seu chocalho construindo o tempo da igualdade entre mulheres e homens. Mãe, fecundando o sonho de uma vida melhor para seus filhos e filhas, neste caso, toda a humanidade. Negra, da cor da noite, do sofrimento na pele, a sabedoria nos olhos. Guerreira. Mulher. Linda!

 Este tema é uma homenagem, um carinho da Escola de Samba Unidos da Lona Preta a todos àqueles e aquelas que cotidianamente batalham pelo nosso movimento. Uma homenagem aos companheiros e às companheiras que plantam, colhem, suam, no campo e na cidade, nas marchas e panfletagens. Um reconhecimento a todos e todas que no dia-a-dia fazem a luta acontecer: quem consegue o recurso para a alimentação em um curso de formação; quem cozinha nos encontros; quem pinta bandeiras de madrugada; quem lida com papeladas fazendo relatórios; quem sabe a hora certa de colher o fruto; quem anda quilômetros para cumprir uma tarefa; quem cuida das crianças nas cirandas.
 Estes e estas representam, povo brasileiro, povo trabalhador, ou seja, TODOS NÓS, que não desistimos diante das dificuldades e que seguimos firmes e fortes. Cabeça erguida, dignidade inabalável. Se o presente é de luta, o futuro é nosso... 
E fez-se a luta. Somos José, Pedro e Maria, somos Geralda, Teresa e Manoel. SOMOS SEM TERRA!... E fez-se a luta!


“E fez-se a luta: uma homenagem à toda companheirada”
A vida muda a luta, a luta muda a vida
Sou Sem-Terra com dignidade (Refrão)
Batucada na avenida
Construindo a unidade
De punhos erguidos
A Unidos vem cantar
Pra quem tá na correria, no dia-a-dia
Plantando a resistência popular
Infância Sem-Terrinha é na ciranda
Cozinha coletiva faz comer a ocupação
O coração batendo ao som do samba
A foice e a baqueta na mão
O pulso firme e forte das mulheres
Debate de idéia em reunião
E nem mais um minuto de silêncio
Àqueles que tombaram neste chão
Não matarão, nossos sonhos de criança
Que na nossa militância, para sempre prevaleça (Refrão)
O repique de Geraldo, o sorriso de Vanessa
Laércio, a justiça burguesa
Não prenderá a consciência
Da classe que em sua formação
Fez Tio Mauro buscar
A beleza e o pão
Almerinda, a benção, madrinha
Negra, vem da dor o saber
Os teus olhos guerreiros
Nos fizeram entender (que)